terça-feira, 23 de julho de 2013

Crónica de Fernando Alves: Da frivolidade (Llosa e Camus)



«A palavra "frivolidade" corre o noticiário destes dias. Ainda nos lembramos da recente capa do "Economist" sobre "a eleição mais frívola do Ocidente", com Hollande e Sarkozy sentados na relva, numa curiosa recriação de um célebre quadro de Manet. E agora vários dirigentes partidários espanhóis se referem, indignados, à frivolidade de um rei que, em plena crise, foi caçar elefantes para o Botswana. O jornal "El Mundo" considerou que o triste espectáculo dado pelo monarca espanhol "transmite uma imagem de indiferença e frivolidade que o Chefe de Estado jamais deveria dar". É um exercício a que nos deveríamos entregar com mais frequência: o da percepção dessa frivolidade que se impôs como regra, como "ar do tempo". Esse exercício deveria assustar-nos, porque fomos cedendo a essa evanescência doce, a essa pauta leviana e fácil. Em todos os domínios, na política, no jornalismo, na convivialidade quotidiana. Uma importante entrevista de Vargas Llosa ao jornal "El Pais" veio, este fim-de-semana, desafiar-nos a que encetemos esse exercício. A entrevista toma como pretexto a recente publicação pela Alfaguara do novo ensaio de Vargas Llosa, "A civilização do espectáculo". Ele fala deste tempo em que, "como não há maneira de saber o que é a cultura, tudo é cultura e já não o é". Essa "dissolução de hierarquias e referentes" é, para o autor de "Conversa na Catedral", uma clara consequência do "triunfo da frivolidade, do reinado universal do entretenimento". Vale a pena mergulhar nesta longa entrevista, enquanto não chega o ensaio de Vargas Llosa. Ela contém avisos muito sérios sobre os perigos que ameaçam a cultura democrática. Sobre os perigos que advêm da frivolidade que é a marca destes dias. Ela manifesta-se, lembra o peruano, por um quadro de valores "completamente confundido, pelo sacrifício da visão a longo prazo em benefício do imediato". Por causa desta entrevista, a que voltarei, fui procurar um dos discursos de Camus, por ocasião da atribuição do Nobel, em 57, aquele que tem por titulo "O Artista e o seu tempo". Lá está a referência ao modo como a arte se afirma "numa perpétua tensão entre a beleza e a dor, o amor dos homens e a loucura da criação, a solidão mais insuportável e o assédio da multidão, a recusa e o consentimento". Nesse discurso, proferido no grande anfiteatro da universidade de Upsala, Camus lembra-nos que a arte "caminha entre dois abismos que são a frivolidade e a propaganda".»

 Fernando Alves  “Sinais”, 16 de abril de 2012, na TSF

segunda-feira, 22 de julho de 2013



Liberdade, de Fernando Pessoa

     LIBERDADE
    Ai que prazer
    não cumprir um dever.
    Ter um livro para ler
    e não o fazer!
    Ler é maçada,
    estudar é nada.
    O sol doira sem literatura.
    O rio corre bem ou mal,
    sem edição original.
    E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
    como tem tempo, não tem pressa...
    Livros são papéis pintados com tinta.
    Estudar é uma coisa em que está indistinta
    A distinção entre nada e coisa nenhuma.
    Quanto melhor é quando há bruma.
    Esperar por D. Sebastião,
    Quer venha ou não!
    Grande é a poesia, a bondade e as danças...
    Mas o melhor do mundo são as crianças,
    Flores, música, o luar, e o sol que peca
    Só quando, em vez de criar, seca.
    E mais do que isto
    É Jesus Cristo,
    Que não sabia nada de finanças,
    Nem consta que tivesse biblioteca.

          Fernando Pessoa
    http://www.insite.com.br/art/pessoa/cancioneiro/195.php


Lágrima de Preta


Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
António Gedeão

Pedra Filosofal, cantada por Manuel Freire


sábado, 20 de julho de 2013

"Os ombros suportam o mundo" de Carlos Drummond de Andrade

Os ombros suportam o mundo


Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de Andrade

Poema " Talvez "de Pablo Neruda

            

Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,

E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...

Pablo Neruda

sábado, 13 de julho de 2013

O Sonho


Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria, ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

-Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama

O Cavaleiro da Dinamarca

Trabalho sobre a obra O Cavaleiro da Dinamarca de Sophia de Mello Breyner


Ensaio sobre a Cegueira


Trailer do filme Ensaio sobre a Cegueira, a partir do livro de José Saramago


Lixo de Fernando Verríssimo

Lê o texto:



Os direitos do Leitor, segundo Pennac




quarta-feira, 3 de julho de 2013

terça-feira, 2 de julho de 2013

Conto de princesa

Conto produzido por 5 alunos de 10ºano, seguindo a modalidade de escrita colaborativa.Um aluno iniciou o conto e os restantes foram dando continuidade ao texto.

Era uma vez uma princesa...

terça-feira, 18 de junho de 2013

sábado, 1 de junho de 2013



                                                       

                                                       
Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)

segunda-feira, 20 de maio de 2013

"Escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve."
Vergílio António Ferreira
Veio Ter Comigo Hoje a PoesiaVeio ter comigo hoje a poesia. 
Há quantos anos? Desde a juventude. 
Veio num raio de sol, num murmúrio de vento. 
E a ilusão que me trouxe de uma antiga alegria 
reinventou-me a antiga plenitude 
que já não invento. 

Fazia-lhe outrora poemas verdadeiros 
em fornicações rápidas de galo. 
Hoje não sou eu nunca por inteiro 
e há sempre no que faço um intervalo. 

Estamos ambos tão velhos — que vens fazer? 
— a cama entre nós da nossa antiga função. 
Nublado o olhar só de a ver. 
E tomo-lhe em silêncio a mão. 

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'

Tema(s): Poeta Ler outros poemas de Vergílio António Ferreira 

quarta-feira, 15 de maio de 2013


CARTA DE ABRAHAM LINCOLN PARA O PROFESSOR DO SEU FILHO.





"Caro professor, ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, para cada vilão há um herói,para cada egoísta, há um líder dedicado.
Ensine-o, por favor, que para cada inimigo haverá também um amigo, ensine-o que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada.
Ensine-o a perder, mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso.
Faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros no céu, as flores no campo, os montes e os vales.
Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos.
Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram.
Ensine-o a ouvir todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho. Ensine-o a rir quando estiver triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram.
Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão.
Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço. Deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso.
Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens.
Eu sei que estou a pedir muito, mas veja o que pode fazer, caro professor.“
A Maior Flor do Mundo

Motivação para Leitura de textos Poéticos


terça-feira, 14 de maio de 2013

Nuvem de Leitura


Este é um espaço destinado à promoção da leitura. Destina-se a todos aqueles que gostam de ler.